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Santiago de Compostela, na Espanha, é famosa no mundo todo por conta da peregrinação feita por milhares de pessoas todos os anos.
E não é exagero dizer que a cidade é um prêmio merecido para quem faz o caminho de Santiago de Compostela e encara os muitos quilômetros de caminhada a pé, de bike ou até mesmo a cavalo.
Quando visitei a cidade, fiquei encantada com o charme da arquitetura, a riquíssima gastronomia e as vielas conservadas com intensa movimentação de visitantes.
De fato, passei a maior parte do tempo na chamada “cidade velha”. É lá que fica a catedral de Santiago, onde está a tumba do apóstolo (e o marco final do caminho).
Na época, eu pensava que a peregrinação era feita apenas por cristãos, mas me surpreendi ao perceber que pessoas de diferentes crenças ou sem crença alguma (apenas em busca de aventura ou contemplação), fazem o trajeto. Isso torna a cidade bastante diversa e ainda mais interessante.
Há mais de uma rota para o caminho de Santiago de Compostela, a mais famosa saindo da França com aproximadamente 800 quilômetros.
Quer saber mais? Aqui você fica sabendo todos os detalhes para planejar sua viagem.
Índice
Mapa de Santiago de Compostela
Santiago de Compostela é uma cidade com cerca de 100 mil habitantes que fica no noroeste da Espanha. Ela é também a capital da Galiza, sendo parte da província de Corunha.
Eu cheguei até lá a partir de Madrid, capital da Espanha, que fica aproximadamente 600 quilômetros de distância. Optei pela viagem diurna de trem e não me arrependi, pois apesar de um pouco mais longa, possui paisagens incrivelmente belas.
No entanto, Santiago de Compostela fica um pouco mais próxima de Lisboa, capital de Portugal, a cerca de 530 quilômetros (mais abaixo no mapa), e muita gente prefere fazer este trajeto de carro entre os dois países para conhecer também Porto, Braga e Coimbra.
História do Caminho
A história da peregrinação remonta ao século IX, quando foi descoberta a tumba do apóstolo São Tiago. No local, foi fundada a cidade de Santiago de Compostela e as pessoas passaram a fazer peregrinações até lá.
Com o tempo, no trajeto foram sendo construídas hospedarias, igrejas e mosteiros. Porém, a catedral que hoje abriga os restos mortais do discípulo de Jesus Cristo, só foi finalizada em 1128.
É interessante ressaltar aqui que, por conta do cenário conturbado econômico e social na Europa, depois do século XIV houve um grande declínio no número de visitantes, e durante muito tempo a rota ficou praticamente esquecida.
Apenas já no século XX, mais precisamente na década de 1980, é que o caminho voltou a ganhar popularidade. Atualmente, mais de 300 mil pessoas fazem o trajeto todos os anos, em diversas rotas que culminam na tumba da catedral.
As rotas para Santiago de Compostela
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Como mencionei, não há apenas uma rota para se chegar a Santiago de Compostela. Os peregrinos chegam à cidade vindos de diferentes lugares, por diferentes trajetos. Entretanto, o mais tradicional deles é entre a França e a Espanha.
Vamos conhecer um pouco mais sobre cada uma das rotas oficiais:
Caminho Francês
Este é o trajeto mais conhecido, que começa na comuna francesa de Saint-Jean-Pied-de-Port, entra na Espanha por Roncesvalles, no sopé da cordilheira dos Pireneus, e segue por cerca de 800 quilômetros até Santiago de Compostela.
São entre 25 e 35 dias de caminhada, passando por cidades como Burgos e Pamplona. O trajeto é muito bem sinalizado e com boa infraestrutura (pousadas, paradouros e restaurantes). Por ele circulam mais 200 mil pessoas a cada ano, ou seja, praticamente 75% do total de peregrinos.
Caminho Português para Santiago de Compostela
Com saída de Portugal há duas opções para o caminho. A mais clássica é a partir da cidade do Porto, com trajeto de 250 quilômetros, que podem ser vencidos em até 12 ou 13 dias.
Outra possibilidade é sair pela capital Lisboa, em um total aproximado de 600 quilômetros (cerca de 25 dias de caminhada). Nesta rota também há bastante infraestrutura e costuma sair mais em conta para o bolso do peregrino.
Caminho do Norte
Esta rota parte de Irún, na Espanha, e são 825 quilômetros até Santiago de Compostela (cerca de 35 dias de caminhada). Também conta com menos infraestrutura e menos viajantes.
Ou seja, é preciso avaliar bem se você está disposto a passar muitos dias completamente sozinho e sem muitos locais de apoio.
Contudo, pode-se dizer que é um dos caminhos mais bonitos, uma vez que percorre a costa, cruzando as faixas de areia do Mar Cantábrico.
O Caminho do Norte se encontra com o Caminho Francês em Arzúa, passando ainda por cidades como San Sebastián, Santander e Gijón.
Caminho Primitivo para Santiago de Compostela
Este caminho parte da cidade de Oviedo, a capital das Astúrias, no norte da Espanha, e tem cerca de 315 quilômetros (pode ser vencido em uma média de 14 dias).
É um caminho mais curto, mas também considerado bastante difícil por conta da geografia. São muitas subidas e descidas, exigindo um esforço físico imenso do caminhante.
O Caminho Primitivo tem este nome porque foi a primeira rota de peregrinação até Santiago de Compostela, percorrida desde o século IX. A cerca de 50 quilômetros do ponto final, o trajeto converge com o Caminho Francês.
Caminho Aragonês
Essa caminhada começa em Samport, no Valle del Aragón, na Espanha. É uma das mais longas rotas, com 960 quilômetros, e por ela o viajante leva em média 40 dias para chegar a Santiago de Compostela.
Este percurso se encontra com o Caminho Francês após cerca de 150 quilômetros, na cidade de Puente la Reina.
A paisagem é bastante variada, passando por vales, montanhas, e cidades como Aragão, Santa Cruz de la Serós, Leyre, Monreal e Eunate.
Caminho da Prata para Santiago de Compostela
O Caminho da Prata ou Via de la Plata, sai de Sevilha e percorre 980 quilômetros até Santiago em uma antiga rota comercial.
É um percurso longo, indo de sul a norte da Espanha, no qual o peregrino pode levar mais de 40 dias para chegar. É muito bem sinalizado, com bastante infraestrutura para receber os viajantes.
Também é uma rota muito agradável, com diversidade de cenários, uma vez que praticamente atravessa o país. Evite, contudo, fazê-la no verão, pois há longos trechos sem vegetação que dê sombra.
O Caminho da Prata se une ao Caminho Francês em Astorga.
Caminho de Finisterr
Este não é propriamente um caminho até Santiago de Compostela, mas sim, uma espécie de prolongamento do caminho oficial.
Finisterra significa “fim da terra” em latim, e os viajantes costumam seguir rumo à cidade que leva este nome, cerca de 90 quilômetros além, o que acrescenta 3 ou 4 dias à caminhada.
Muitos peregrinos gostam da ideia de terminar o trajeto em frente ao mar, no Farol de Finisterra, ao invés de na catedral.
Curiosidades
Quantos quilômetros tem o caminho de Santiago de Compostela?
Como se pode ver, há inúmeros trajetos que levam até Santiago de Compostela. Um velho ditado local diz até mesmo que o “o caminho começa na porta da casa do peregrino”.
Contudo, os três mais conhecidos são:
- Caminho Francês: cerca de 800 quilômetros, saindo de Saint-Jean-Pied-de-Port (França)
- Caminho Português: cerca de 250 quilômetros, saindo da cidade do Porto (Portugal)
- Caminho do Norte: cerca de 825 quilômetros, saindo de Irún (Espanha).
De maneira geral, os peregrinos caminham entre 15 e 25 quilômetros por dia. Claro, tudo vai depender do preparo físico.
Mas, seja você atleta amador ou apenas um amante das caminhadas longas, é muito importante fazer paradas estratégicas a cada 4 ou 5 quilômetros e um repouso maior, com boas horas de sono.
Quais os principais símbolos do Caminho de Santiago de Compostela?
Há muita simbologia envolvida no caminho de Santiago de Compostela. Veja alguns itens e lugares que são marcantes no trajeto.
Credencial do peregrino
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A credencial do peregrino é um documento que identifica a pessoa como peregrino oficial da rota. Além de uma relíquia para ser guardada, esse documento dá à pessoa o direito de se hospedar em albergues municipais (não privados).
Ela vai sendo carimbada durante a caminhada em hospedarias, bares e igrejas, o que comprova o trajeto percorrido.
No final, tendo esse documento, o peregrino recebe a chamada compostela, um certificado para aqueles que percorreram mais de 100 quilômetros a pé ou 200 quilômetros de bicicleta.
A credencial é oferecida em praticamente todas as cidades que iniciam rotas até Santiago, em hotéis ou restaurantes (mediante a doação de €1 ou €2).
A concha de vieira
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Este é o símbolo oficial do caminho de Santiago de Compostela e todo peregrino carrega uma consigo.
Há algumas versões para o início da tradição, mas a mais corriqueira é de que tem origem no fato de que os caminhantes, em épocas remotas, iam até o mar de Finisterra e recolhiam conchas para comprovar a passagem pelo local.
Desta versão desdobram-se outras e a concha de vieira foi ganhando misticismo ao longo dos tempos, relacionando-a até com metáforas e cavaleiros da Idade Média.
De qualquer maneira, ela é um amuleto indispensável aos peregrinos.
Setas amarelas
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As setas amarelas que identificam o caminho para que os peregrinos não se percam são extremamente úteis. Elas estão em todo o trajeto (em árvores, cercas, pedras) e viraram um de seus mais conhecidos marcos.
O primeiro a usar tais símbolos foi o padre espanhol Elías Valiña, em 1984, na localidade galega de Cebreiro.
Na época, o caminho não tinha qualquer infraestrutura e o sacerdote, que até sua morte em 1989 foi um grande entusiasta da iniciativa, criou as flechas amarillas, posteriormente adotadas em outros locais de passagem.
Fonte do vinho
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Este é outro marco bem famoso do caminho de Santiago. Em um trecho de Ayegui, pouco antes do mosteiro de Irache, em Navarra, está a Fonte do Vinho.
Ela foi construída pela vinícola Bodegas Irache, que oferece um pouco da bebida aos peregrinos sem custo (você pode encher um copo ou colocar um pouco na garrafinha, sem exageros). Ao lado da fonte de vinho há também uma de água.
A ideia é inspirada nos monges beneditinos, que tradicionalmente recebiam os passantes desta forma antigamente.
Com isso, espera-se dar ânimo aos caminhantes para que prossigam e é também uma forma de celebrar terem chegado até ali.
Catedral de Santiago
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O destino final dos peregrinos é a catedral de Santiago de Compostela, onde está a tumba com os restos mortais de São Tiago.
A edificação em estilo românico foi construída entre 1075 e 1128. A chamada missa do peregrino é realizada diariamente ao meio-dia. E a visitação é aberta a toda a comunidade, entre 7h e 20h30.
Além do túmulo do apóstolo, a capela tem o maior incensário do mundo, com um metro e meio e 53 quilos. Ele fica suspenso a 20 metros de altura em uma corda de 30 metros de comprimento.
Esse artefato é usado apenas 12 vezes por ano, em datas solenes.
Como Santiago de Compostela morreu?
De acordo com a tradição católica, o apóstolo Tiago foi responsável pela difusão do cristianismo na Península Ibérica.
Contudo, no ano 44 foi decapitado em Jerusalém por ordem de Herodes. Seu corpo foi levado à Galiza de barca e seu túmulo tinha localização incerta.
Conta a lenda que em 813 o local da tumba (onde hoje está a catedral) teria sido descoberto pelo ermitão de nome Pelágio após ser indicado por uma chuva de estrelas.
Essa versão é reforçada pela ideia de que o nome Compostela deriva de Campus Stellae, ou campo de estrelas, em latim.
Verdade ou não, é uma história muito enigmática e curiosa, não é mesmo?
Qual a melhor época para fazer o caminho para Santiago de Compostela?
O caminho de Santiago de Compostela pode ser feito o ano inteiro, porém o ideal é evitar os extremos: muito frio ou muito calor.
Dessa forma, a melhor época para a empreitada é a primavera (entre abril e junho) ou o outono (setembro a novembro).
Vale ressaltar ainda que no inverno o trajeto pelos Pirineus, no Caminho Francês, pode ser fechado por conta da neve.
Por que as pessoas fazem o caminho?
Muitos cristãos fazem por devoção, e há quem faça pelo desafio mental e físico.
Mas, embora não seja uma viagem estritamente religiosa, de maneira geral, o caminho de Santiago de Compostela é bastante espiritual. Afinal, você vai ficar muitos dias caminhando.
Mesmo com companhia, por vezes haverá silêncios, e isso, normalmente, leva a uma contemplação ou meditação.